Daniel Sampaio, conhecido médico psiquiatra, com importantes
intervenções sobre a escola e a relação das crianças e suas famílias com a escola
pergunta: Vale a pena encorajar uma criança a ler, para além do que é
necessário para a escola?
Responde que sim; vale mesmo a pena. É importante fazê-lo,
embora saibamos que se trata de uma tarefa difícil, numa época em que as
tecnologias dominam as suas atenções. Acrescenta que o momento de aprendizagem
da leitura é sentido pelas crianças como um momento mágico, porque se apercebem
que a junção das letras começa a fazer sentido.
Porém, na adolescência, diremos mesmo na pré-adolescência,
abandonam o hábito de ler; a leitura restringe-se aos excertos ou textos que têm
mesmo de ler, muitas vezes na diagonal. Será que adquiriram o hábito de ler e o
gosto pela leitura durante o 1.º ciclo, ou leram porque foram obrigados?
Se foram obrigados e assim o sentiram, a leitura não conseguiu entusiasmá-los
e a magia não aconteceu. Os livros infanto-juvenis são, hoje, maravilhosos, mas
exigem uma abstração das tecnologias, dos jogos eletrónicos e da TV que não
aceitam facilmente. Por outro lado, muitas crianças não têm o exemplo em casa
e, muitas vezes, nas escolas a leitura fica-se pelos livros de leitura
obrigatória.
Diz-se, hoje, que os nossos jovens lêem muito; lêem em todo o
lado e em vários suportes, principalmente em suporte digital através dos
telemóveis. Que leituras fazem? Será que leriam mais em suportes digitais?
Infelizmente, nem todos os possuem e a grande maioria das
bibliotecas escolares não possuem e-readers nem ebooks nas suas coleções.
E Daniel Sampaio continua: Faz bem ler? Sim e por diversas
razões: o livro é um companheiro que transportamos
para qualquer lugar, sem corrermos o risco de ficar sem bateria, e que nos
acalma quando nos sentimos sós, tristes ou irritados. Por outro lado, o livro potencia
a imaginação e a criatividade, enriquece o nosso vocabulário, facilita a
expressão oral.
Cientificamente, elucida-nos que o cérebro se desenvolve até,
pelo menos, aos 24 anos e que as ligações cerebrais são estimuladas pela
concentração necessária à leitura.
Daniel Pennac fala-nos sobre os direitos do leitor: o direito de
voltar atrás, de saltar páginas, de começar pelo fim. Daniel Sampaio diz-nos
que as possibilidades de voltar atrás para reler passagens, recordar nomes de
personagens, imaginar outro final, imaginar os cenários, vivenciar a ação, ou
simplesmente, memorizar um poema são verdadeiros alimentos para o nosso cérebro,
verdadeiro “exercício físico” e estimulam novas conexões cerebrais. Pela
leitura e com a leitura, a criança cresce emocionalmente e o seu cérebro
desenvolve-se.
Para ele, “Ler em família estimula a partilha e a comunicação
entre todos. Ler sozinho é o melhor antídoto contra o tédio”. E além disso, ler
livra-nos da ignorância.
Uma criança que lê é um adulto que pensa. Vamos ler? Vamos aceitar este desafio?
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